domingo, 12 de agosto de 2012

Manifesto: a nova direita do ano 2000 - Parte 1


De Alain de Benoist e Charles Champetier

Introdução
            A nova direita nasceu em 1968. Não é um movimento politico, mas uma escola de pensamento. Suas atividades, há mais de trinta anos (publicação de livros e revistas, realização de colóquios e conferências, organização de seminários e cursos de férias, etc.) se situam em uma perspectiva eminentemente metapolítica.
            A metapolítica não é outra maneira de fazer politica. Não é, em absoluto, uma “estratégia” que visa impor uma hegemonia intelectual; tampouco pretende desqualificar outras posições ou atitudes possíveis. Em poucas palavras, a metapolítica tem como base a constatação de que as ideias possuem um papel fundamental nas consciências coletivas e, de forma mais geral, em toda a história humana. Heráclito, Aristóteles, Santo Agostinho, São Tomas de Aquino, Rene Descartes, Immanuel Kant, Adam Smith e Karl Marx provocaram em sua época, com suas obras, revoluções decisivas cujo efeito ainda se percebe. É verdade que a historia é resultado da vontade e da ação do homem, porem estas se realizam sempre pautadas em um certo numero de convicções, crenças, e representações que as conferem um sentido e a orientam. A ambição da Nova Direita é contribuir para a renovação destas representações sócio-históricas.
            Por outro lado, o acerto desta perspectiva metapolítica vem abalizado pela reflexão sobre a evolução das sociedades na alvorada do século XXI. Com efeito, hoje constatamos, por um lado, a crescente impotência dos partidos, sindicatos, governos e o conjunto das formas clássicas de conquista e exercício do poder, e por outro, a acelerada obsolescência de todas as velhas fronteiras e divisões que haviam vindo caracterizando a modernidade, começando pela tradicional díade direita/esquerda. Simultaneamente estamos assistindo a uma explosão sem precedentes de conhecimentos, que se multiplicam sem que suas consequências cheguem a ser sempre totalmente percebidas. Em um mundo onde os grupos fechados deram vez às redes interconectadas, onde os pontos de referencias estão cada vez mais confusos, a ação metapolítica consiste na intenção de dar novamente um sentido às coisas, ao mais alto nível, através de novas sínteses; em desenvolver, ah margem da insignificância da politica, um modo de pensamento resolutamente transversal; definitivamente, estudar todos os campos do saber com o fim de propor uma visão coerente do mundo.
            Tal é o nosso objetivo desde há trinta anos, e o presente Manifesto assim o mostra. Sua primeira parte, “Situações”, oferece uma analise crítica de nossa época. A segunda, “Fundamentos”, expõe a base da nossa visão do homem e do mundo. Ambas estão inspiradas por uma posição pluridisciplinar que supera a maior parte das fronteiras intelectuais hoje reconhecidas. Tribalismo e mundialismo, nacionalismo e internacionalismo, liberalismo e marxismo, individualismo e coletivismo, progressismo e conservadorismo se opõe, com efeito dentro da mesma logica complacente da exclusão de uma terceira alternativa . Porém desde há um século estas oposições fáticas mascaram o essencial: a amplitude de uma crise que impõe uma radical renovação dos nossos modos de pensamento, decisão e ação. Em vão, pois, se buscará nestas páginas o rastro de dos precursores dos quais não seríamos mais que os herdeiros: a Nova Direita é fruto das mais diversas vertentes teóricas que a precederam. Praticando uma leitura extensiva da história das ideias, ela não hesita em incorporar aquelas que lhe pareçam corretas em qualquer corrente de pensamento. É certo, por outro lado, que tal posição transversal provoca regularmente a ira dos “cães Cérbero” do pensamento, que se incumbem de congelar as ortodoxias ideológicas com o intuito de paralisar qualquer nova síntese que possa ameaçar seu conforto intelectual.
            E por fim, desde suas origens, a Nova Direita agrupa homem e mulheres que vivem na mesma cidade e que desejam participar de uma maneira efetiva no seu florescimento. Tanto na França como em outros países, ela constitui uma comunidade de trabalho e reflexão cujos membros não são necessariamente intelectuais, porém todos se interessam, de uma ou outra maneira, pelo combate das ideias. Nesta perspectiva, a terceira parte deste manifesto, “Orientações”, exprime nossa posição sobre os grandes debates da atualidade e nosso ponto de vista sobre o futuro de nossos povos e nossa civilização.